CAFÉ :MOCINHO
OU VILÃO?
Vai
um cafezinho aí?
"Num
dia frio um bom lugar pra ler um livro, e o pensamento lá em você...",
quem não gosta de tomar um café quentinho ou um capuccino cremoso. Uma das
bebidas mais apreciadas no mundo o café vem ganhando espaço no cardápio dos
brasileiros, que por sua vez vem criando variações de receitas com a utilização
de café, “eita” povo criativo esse tal de brasileiro...
De
vilão a mocinho o café vem mudando seu conceito, pesquisadores constataram que
o café é aliado da saúde pois ajuda a melhorar o humor, previne a depressão,
algumas doenças cardiovasculares e câncer.
Por
que o café faz bem?
O café não é remédio, mas a comunidade médico-científica já considera a planta
como funcional (previne doenças mantendo a saúde) ou mesmo nutracêutica
(nutricional e farmacêutico). Isso porque o café não possui apenas cafeína, mas
também potássio, zinco, ferro, magnésio e diversos outros minerais, embora em
pequenas quantidades. O grão do café também possui aminoácidos, proteínas,
lipídeos, além de açúcares e polissacarídeos. Mas, o principal segredo: possui
uma enorme quantidade de polifenóis antioxidantes, chamados ácidos clorogênicos.
Durante a torra do café, esses ácidos clorogênicos formam novos compostos
bioativos: os quinídeos. É nessa etapa também que as proteínas, aminoácidos,
lipídeos e açúcares formam os quase mil compostos voláteis responsáveis pelo
aroma característico do café. É toda essa composição que faz do café uma bebida
natural e saudável.
Primeiros
resultados de uma pesquisa feita pelo Instituto do Coração, em São Paulo,
indicam que bebida não aumenta o risco de infarto.
Alguém
duvida de que o café seja uma preferência nacional? Tomar um cafezinho é um
gesto repetido milhões e milhões de vezes por dia. No Brasil, essa dose
instantânea de tradição e alegria só perde para a água como bebida mais
consumida. Nove entre dez brasileiros com mais de 15 anos tomam pelo menos um
café por dia. O caminho dele até às xícaras é longo. E o tratamento que se dá a
esse símbolo nacional está cada vez melhor.
"Buscamos uma bebida suave, como costumamos falar. Uma bebida que é
agradável para a pessoa tomar, que não tenha um sabor estranho nem seja muito
forte. Tem que ter um amarguinho, mas com sabor, como se fosse um sabor de
fruta. Esse é o ideal", explica o engenheiro agrônomo José Braz Matiello.
Neto de italianos que chegaram ao Brasil no século 19 para trabalhar em
lavouras de café, Matiello passou a vida toda no meio delas. Engenheiro
agrônomo e pesquisador, em mais de 40 anos de estrada, ele construiu um nome
respeitadíssimo no mundo do café.
"As pessoas sempre falaram que o café bom vai para o exterior e o ruim
fica aqui. Isso acontecia no passado. Hoje em dia, algum mercado ainda pode
pagar um preço melhor. Logicamente, o café vai para lá. Mas o consumo interno
cresceu muito, em função também da melhoria da qualidade. Passamos de 17
milhões de sacas. O Brasil é o segundo maior consumidor mundial de café, só
perde para os Estados Unidos", diz Matiello.
Mas não dá para esquecer que o café ainda carrega uma certa fama de vilão da
saúde. Muita gente se mantém longe dele. A bebida causaria ansiedade,
palpitações. O Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (Incor-USP)
até criou uma unidade de pesquisa especial: Café e Coração. A ideia é, pela
primeira vez, no Brasil, analisar a ação do café no organismo, comparando
pessoas com doenças do coração, diabéticas ou saudáveis, sem nenhuma doença.
Parece simples, mas não é.
Sete voluntários, parte de um primeiro grupo de 27, dedicaram 70 dias à
pesquisa. Vida em comum, perfis diferentes. A aposentada Maria Dalva Dias não
tem problemas de saúde. Já o marido dela, seu Carlos, tem entupimentos em
artérias do coração, que provocam cansaço e dores no peito. Por enquanto, toma
remédios. Mas uma cirurgia não está descartada.
Antes dos primeiros exames, realizados no Incor, os voluntários precisaram
reduzir a zero a cafeína no organismo. Uma "limpeza", que levou 21
dias.
"Foi difícil. Eu senti dor de cabeça. Ficar sem café é ruim. É duro sentir
o cheiro do café, ver os outros tomando. É terrível. Eu também não podia
consumir refrigerante, chocolate, chá mate. Tive que tirar tudo o que contém
cafeína para começar os testes", conta dona Dalva.
Uma batelada de testes, para que os médicos pudessem verificar como o organismo
dos voluntários funcionaria sem cafeína. Depois, todos receberam o mesmo tipo
de café, em duas versões: mais ou menos torrado e uma cafeteira para levar para
casa, além de uma rotina a ser seguida, rigorosamente, durante várias semanas.
"A medida da água e do pó tinha que ser certinha", lembra dona Dalva.
Seu Carlos e dona Dalva não tiveram nenhum problema em seguir as instruções. A
regra era tomar três xícaras de café por dia, nos horários que eles
escolhessem. "É mais gostoso. Voltar a tomar café depois de um tempo é
muito mais gostoso", comemora dona Dalva.
De volta ao Incor, os testes foram repetidos. Os médicos estão cautelosos.
Ainda é cedo para conclusões definitivas. Mas os primeiros resultados confirmam
o que pesquisas internacionais já vêm indicando. "Hoje está claro que
tomar café não leva a ter mais infarto. Em vários estudos europeus e
americanos, isso começa a cair em termos de verdade. Já há evidências claras de
que o aumento da pressão arterial em uma pessoa que toma café regularmente é
discretíssimo. É diferente para o individuo que nunca tomou café e de repente
toma duas grandes xícaras de café. Esse indivíduo pode se sentir mal, até ter
elevação da pressão, taquicardia, porque ele não está acostumado ao café",
esclarece o professor Luiz Antonio M. César, médico do Incor.
Segundo o coordenador da Unidade de Café e Coração, não houve mudanças nos
níveis de colesterol dos voluntários. O que era esperado, porque, no café
coado, a gordura é filtrada. E a pressão sanguínea deles ficou até um pouquinho
mais baixa no período em que tomaram café. Houve também uma agradável surpresa.
"Não posso afirmar que isso seja um efeito e que vai ser mantido. Mas
ficou evidente que houve uma redução de 70% no número de extrassístoles das
pessoas que tinham doenças no coração. É muito cedo, mas, no conjunto, eu posso
dizer: mal não faz", afirma doutor Luiz Antonio M. César.
Os resultados dos efeitos do café nos voluntários diabéticos ainda não estão
prontos, mas os pesquisadores já podem garantir que o café é até bom para eles.
"Todos os estudos epidemiológicos estão mostrando de forma clara que quem
toma café tem menos chances de ficar diabético. Ou, se for ficar, ficar mais
tarde", revela doutor Luiz Antonio M. César.
Segundo os especialistas, essa virada da ciência em relação ao café se deve,
sobretudo, ao fato de as pesquisas, no passado, encararem o produto como se
fosse apenas cafeína. Em vez de xícaras de café, os pacientes testados só
recebiam pílulas de cafeína.
"A cafeína isolada talvez não seja boa, mas o café não é só cafeína, tem
centenas de outras substâncias. São estudos recentes que estão mudando a imagem
do café", diz doutor Luiz Antonio M. César.
http://www.abic.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=40
http://g1.globo.com/globoreporter/0
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